domingo, 5 de setembro de 2021

Um livro de presente para você - Por Marcos Ferreira

        

Imagem: reprodução http://blogcarlossantos.com.br/


        Não compre fuzil, compre um livro. O livro é a arma de grosso calibre mais poderosa do mundo. Penetra a blindagem da ignorância e liberta as pessoas da escuridão e da miséria sociocultural. Quem diz que você, em vez de feijão, deve comprar um fuzil, antes de mais nada, é um canalha. Sim. Canalha fascista, um brucutu tão sensível quanto uma bigorna, inimigo da educação e da cultura.

        O povo passando fome, gente esmolando nas ruas, em toda parte, e essa cavalgadura demoníaca, por ora aboletada na Casa de Vidro, dando coices contra os brasileiros mais necessitados. Amanhã, no entanto, como diz a canção, vai ser outro dia, e esse ferrabrás será expelido da vida pública deste país.

        Portanto, não compre fuzil nenhum. Isso é mera bravata de um sacripanta que é forte candidato a ocupar uma cela em Bangu 8. Adquira, primeiramente, o mínimo necessário à subsistência, o pão de cada dia, o feijão. Se sobrar, compre um livro de presente para você. Ou o ofereça àquela pessoa a quem você admira. “Dar livro é, além de uma gentileza, um elogio”. Palavras de Sêneca.

        Quanto tempo faz que você não dá a si próprio (ou a si própria) um livrinho de presente? Talvez há anos. Falo por mim, pois estou em débito comigo. Deste mês, porém, não passa. E se hoje eu tirar algum na borboleta, aí é que vou depressa a uma livraria. A gente já se priva de tanta coisa, não é mesmo? E nisso os livros, principalmente, vão ficando em segundo, terceiro ou quarto plano.
        Outro dia vi uma postagem da amiga e leitora Rozilene Ferreira da Costa, no Instagram, exibindo um belíssimo livro que ganhara de Eduardo, seu digníssimo esposo. Pelo que conheço Rozilene, tenho certeza de que ela ficou com um sorriso de orelha a orelha quando lhe foi entregue o referido presente.
        O escritor Monteiro Lobato, ao contrário da mentalidade grotesca desse Capitão Caverna que hoje acanalha o Brasil, dizia que um país se faz com homens e livros. Ainda creio que um dia, como na canção do Chico Buarque, esta terra vai cumprir seu ideal. Precisamos, contudo, de mais investimentos na educação e na cultura. Enquanto isso não chega, dentro do possível, compremos livros.
        Ler é uma forma de insubordinação mental, de insurgência contra a máquina perversa desse governo que trabalha tão só para que a grande maioria dos brasileiros seja cada vez menos instruída. Um povo ignorante é muito mais facilmente enganado e manipulado. Por isso é que precisamos de leitura.
        Compre um livro de presente para você ou, repito, ofereça-o a alguém de sua estima. Tomem por exemplo o marido da Rozilene.
        Ler um bom livro (carece que seja bom!), afora o aspecto da autoinstrução e enriquecimento humanístico, é também um ato político. A leitura, senhoras e senhores, é quebradora de grilhões, arquirrival de amarras e mordaças. Um povo lido e instruído está imune a diversas enfermidades sociais. Em uma nação onde sua gente tem acesso a livros e é estimulada a ler há menos desigualdade.
        O solitário (ou não) exercício da leitura é a viagem mais profunda e segura que podemos experimentar. Por que pagar uma fortuna que pode lhe custar os olhos da cara por uma viagem num transatlântico, quando você pode usufruir de mais belezas e emoções lendo, por exemplo, as Vinte Mil Léguas Submarinas, do francês Júlio Verne? Eu, que temo o alto-mar, prefiro as águas da literatura.
        Livros são tão essenciais para o nosso fortalecimento quanto o cálcio e a proteína. Até o ricaço Bill Gates deu o seguinte depoimento: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever — inclusive a sua própria história”.
        Menos afortunado do ponto de vista econômico, mas riquíssimo na arte da palavra escrita, o genial Mario Quintana nos brinda com esta bela historieta: “De um autor inglês do saudoso século XIX: O verdadeiro gentleman compra sempre três exemplares de cada livro: um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente”. Pois é, eis a beleza de um livro de presente.
        Sei que as coisas não estão nada fáceis, sobretudo devido à subida estratosférica do preço dos alimentos, do gás de cozinha, da gasolina, etc., porém torço que você encontre um respiro financeiro, e se permita presentear com uma obra literária daquele autor que há muito você almeja ler ou até reler.
        De minha parte, ao menos por hoje, vou esperar o resultado do jogo do bicho. Quem sabe finalmente dê a borboleta na cabeça. Por que não? Nunca se sabe onde a bendita roleta vai estacionar. Aí, como eu disse, irei a uma livraria logo que o senhor Raimundo Gago, o cambista, me trouxer a grana do prêmio. Hoje há de sair a borboleta! Torçam por mim, prezado leitor e gentil leitora.
        O hábito de ler, a leitura de grandes autores e obras, é algo que nos resgata da indigência mental; a um só tempo nos liberta, enriquece, fortalece. “Todo dia, devíamos ler um bom livro, uma boa poesia, ver um quadro bonito, e, se possível, dizer algumas palavras sensatas”, aconselha o poeta Goethe.
        Você merece um desses presentes. Já cantei o tema da leitura em verso e prosa. Julgo oportuno, para fim de papo, reproduzir aqui o seguinte poema. Tem a ver com a redenção que os livros nos possibilitam. Ei-lo:

Liberdade de pensamento
Liberte-se mentalmente,
Não fique tão à mercê
Do que se diz na imprensa,
Na internet ou na tevê…
Curta mais a liberdade
De curtir ser mais você.
Abra um livro, leia mais.
É mais livre quem mais lê.


Marcos Ferreira é escritor

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